O pesadelo é um túnel vertical, a gente desliza por ele até o chão, um chão lamacento, há de se reconhecer. Com esse movimento, vem a vertigem, vertigem fruto do impasse: Será real?
Entretanto, problema de fato, aparece quando a gente faz o caminho inverso, quando a gente vai do adormecer ao acordar, quando a vertigem virada em certeza afirma impiedosa: É real.
O piso de lama transforma-se em teto, e o teto respinga pegajoso.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
sábado, 25 de dezembro de 2010
Registro:
Esta noite estou um pouco nervoso. Mandei partes do meu primeiro romance para que sejam lidos por dois amigos meus, o Raoni, que é deficiente como eu, e a Marina Xisto, que não é cega nem portadora de visão subnormal, mas que é inteligente e sensível e poderá oferecer-me opiniões sinceras e construtivas.
Ninguém, além de minha mãe, em minha família já leu esses originais, preferi assim, o risco de ser mal interpretado diminui.
Ninguém, além de minha mãe, em minha família já leu esses originais, preferi assim, o risco de ser mal interpretado diminui.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
O Hino da Paz
Já que virei fã de Claudio Botelho, resolvi imitá-lo. É óbvio que não tenho sequer metade do talento dele, e é verdade também que em outras ocasiões me diverti fazendo, o que para Botelho, significa trabalho. Mas, como já disse, agora que decidi copiá-lo, deixei o Roupa Nova de lado e versionei para o Português uma canção do musical RENT.
Confesso que me aproveitei de certas liberdades e torci um pouco o sentido da letra. A original trata, de maneira crítica, o modo como vivemos, fazendo tudo automaticamente, mecanicamente. Eu, por minha vez, construi um texto sobre as opções que temos ao longo dos anos que se passam. Espero que não tenha ficado muito confuso, porém, o importante aqui, eu acho, foi o entretenimento que a atividade me deu.
Chega de enrolação, passemos à mágica... Melhor, passemos à música!
Letra e Música originais de JONATHAN LARSON
Versão livre para o Português de Edgar Jacques
Seasons Of Love - O Hino da Paz
CORO
Quem sempre conta segundos, só perde tempo.
Quem sempre conta segundos, conta em vão.
Pra quem só conta segundos, resta um problema:
As mãos num leme, sem direção.
Diante da noite, fluente, o rio corre.
Carrega, pra longe, o trigo e o metal.
E pra quem só conta segundos, perdendo tempo,
Não sobra espaço pra se colocar...
O Amor e a Paz. (repete-se quatro vezes)
Amor e Paz... (repete-se duas vezes)
SOLISTA FEMININO
Quem nunca conta segundos, só perde tempo.
Nem sempre planos dão certo, mas podem dar.
Pra quem não conta segundos, resta um dilema:
Anos passam, sem que o futuro vá chegar.
SOLISTA MASCULINO
Quantia ou valor, o que pesa mais?
Sob dor ou torpor, do que a gente é capaz?
CORO
E agora é a hora de viver ou não viver.
Mas, veja bem, a escolha requer um saber só seu,
Pra receber Paz,
Pra conhecer Paz,
Pra entender Paz!
Paz e o Amor!
SOLISTA FEMININO
Oh, eu sei você tem tanto tempo pra ver que o mal ou o bem sempre vem pra quem plantar.
É bom cantar a paz, o amor... O amor e a paz em nós!
O amor e a paz... O amor e a paz em nós!
CORO
O hino da paz,
O hino da paz!
PS 1 - Usei a gravação feita para o filme RENT dirigido por Chris Columbus em 2005 como referência.
PS 2 - Baixei a partitura do site "sheetzbox.com".
PS 3 - Falando em Claudio Botelho, essa minha letra ficou muito mais a cara do HAIR do que a do RENT.
Confesso que me aproveitei de certas liberdades e torci um pouco o sentido da letra. A original trata, de maneira crítica, o modo como vivemos, fazendo tudo automaticamente, mecanicamente. Eu, por minha vez, construi um texto sobre as opções que temos ao longo dos anos que se passam. Espero que não tenha ficado muito confuso, porém, o importante aqui, eu acho, foi o entretenimento que a atividade me deu.
Chega de enrolação, passemos à mágica... Melhor, passemos à música!
Letra e Música originais de JONATHAN LARSON
Versão livre para o Português de Edgar Jacques
Seasons Of Love - O Hino da Paz
CORO
Quem sempre conta segundos, só perde tempo.
Quem sempre conta segundos, conta em vão.
Pra quem só conta segundos, resta um problema:
As mãos num leme, sem direção.
Diante da noite, fluente, o rio corre.
Carrega, pra longe, o trigo e o metal.
E pra quem só conta segundos, perdendo tempo,
Não sobra espaço pra se colocar...
O Amor e a Paz. (repete-se quatro vezes)
Amor e Paz... (repete-se duas vezes)
SOLISTA FEMININO
Quem nunca conta segundos, só perde tempo.
Nem sempre planos dão certo, mas podem dar.
Pra quem não conta segundos, resta um dilema:
Anos passam, sem que o futuro vá chegar.
SOLISTA MASCULINO
Quantia ou valor, o que pesa mais?
Sob dor ou torpor, do que a gente é capaz?
CORO
E agora é a hora de viver ou não viver.
Mas, veja bem, a escolha requer um saber só seu,
Pra receber Paz,
Pra conhecer Paz,
Pra entender Paz!
Paz e o Amor!
SOLISTA FEMININO
Oh, eu sei você tem tanto tempo pra ver que o mal ou o bem sempre vem pra quem plantar.
É bom cantar a paz, o amor... O amor e a paz em nós!
O amor e a paz... O amor e a paz em nós!
CORO
O hino da paz,
O hino da paz!
PS 1 - Usei a gravação feita para o filme RENT dirigido por Chris Columbus em 2005 como referência.
PS 2 - Baixei a partitura do site "sheetzbox.com".
PS 3 - Falando em Claudio Botelho, essa minha letra ficou muito mais a cara do HAIR do que a do RENT.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Juro que não usei entorpecentes.
Colibri.
Que palavra bonitinha!
Se eu fosse um poeta, escreveria um trabalho sobre ela. Sobre a palavra. E talvez sobre o passarinho também.
O problema é que não sei nada acerca do bicho, nem onde vive, nem o que gosta de comer.
Mas, não importa, eu não sou um poeta de qualquer maneira.
Colibri, colibri.
O som começa redondo quando se diz, colibri. Começa redondo, porém, termina estendido, estendido como a letra I.
É quase um salto que finda numa corrida.
"Um salto que finda?" - de onde tirei isso?
Por certo da mesma caixa da qual desenterrei o Colibri. "O" não, "A". A colibri, a palavra.
Colibri é beija-flor. Não a palavra, o bicho.
Engraçado, Colibri, pra mim, soa melhor que beija-flor.
Será que ele canta? E se canta, canta tão bem quanto quem diz: - Colibri!
Beija-flor, beija sempre, e a beijo é uma palavra feia. Flor é uma palavra gorda.
Curioso, Colibri não é mais nada além do que se sabe ser, diferente da beija-flor que pode querer dizer outras coisas!
Mas, Colibri é bonitinha. Beija-flor, não.
Beijo é bom, eventualmente desagradável. Flor é bela, eventualmente espinhosa.
Colibri é estável, delicado de se dizer, delicado de se olhar.
Frágil colibri, a palavra e o passarinho!
Que palavra bonitinha!
Se eu fosse um poeta, escreveria um trabalho sobre ela. Sobre a palavra. E talvez sobre o passarinho também.
O problema é que não sei nada acerca do bicho, nem onde vive, nem o que gosta de comer.
Mas, não importa, eu não sou um poeta de qualquer maneira.
Colibri, colibri.
O som começa redondo quando se diz, colibri. Começa redondo, porém, termina estendido, estendido como a letra I.
É quase um salto que finda numa corrida.
"Um salto que finda?" - de onde tirei isso?
Por certo da mesma caixa da qual desenterrei o Colibri. "O" não, "A". A colibri, a palavra.
Colibri é beija-flor. Não a palavra, o bicho.
Engraçado, Colibri, pra mim, soa melhor que beija-flor.
Será que ele canta? E se canta, canta tão bem quanto quem diz: - Colibri!
Beija-flor, beija sempre, e a beijo é uma palavra feia. Flor é uma palavra gorda.
Curioso, Colibri não é mais nada além do que se sabe ser, diferente da beija-flor que pode querer dizer outras coisas!
Mas, Colibri é bonitinha. Beija-flor, não.
Beijo é bom, eventualmente desagradável. Flor é bela, eventualmente espinhosa.
Colibri é estável, delicado de se dizer, delicado de se olhar.
Frágil colibri, a palavra e o passarinho!
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Te Digo Adeus Parece Erro de Gramática
E agora te digo ADEUS. Mas digo a quem, no fim das contas?
Curioso isso de se despedir de alguém que não existe de fato, ou que não existe de carne e osso. Se bem que, de certa maneira, isso não é verdade. Todos aqueles a quem dedico o aceno de mãos, ganharam sua forma humana, tenho certeza, forma dotada de suor e inseguranças.
Comecei dizendo, ou melhor, escrevendo, que dizia adeus. Engraçado, então eu disse a Deus ou disse a você?
Tanto faz, nem sei que Deus é esse, e também não sei que você é esse. Só sei que você me faz falta, me resta descobrir se fará para sempre.
Imagino que isso tudo esteja embrulhado numa confusão total. Mas, pelo menos pra mim, está clara a objetividade.
As coisas terminam, mas não terminam como na tv, no teatro, no cinema. Na realidade, as coisas terminam aos poucos, mais ou menos como começam. Nada é de repente, só os sustos guardam pra si essa característica.
Não me é possível, assim como acredito que não seja pra ninguém, determinar o local exato onde encontra-se o ponto final de qualquer fase pela qual passamos. Obviamente, não quero faser referências à morte, até porque, não estou certo a respeito dela representar o THE END definitivo.
Ensaiei, refleti, procurei e procurei um jeito de registrar essa minha percepção. Não encontrei. Não sou poeta, nem cronista, nem dramaturgo. Escrevi um romance, mas nem de longe sou romancista, todavia, acabei descobrindo que o momento ideal é aquele que corre.
Quero pôr em texto, o quadro que vislumbro de um estado que me assola. Estou melancólico desde que entendi o que significava não ter mais a companhia de algumas pessoas surreais. Sim, são surreais porque foram sonhadas e pinçadas do seu limbo onírico, pra que dessem as caras no mundo aqui de fora, são híbridos de delírio e asfalto.
Então, me pus a digitar, isto não é uma redação de vestibular, não é matéria pra jornal, portanto, não faz sentido fazer sentido.
Durmi e acordei assombrado por eles, e agora digo adeus a eles. E o que é mais estranho, não estou à vontade quando penso em lhes revisitar. Será que alguém entende um absurdo desse? Vai ver que nem é tão absurdo assim, ora essa... Nos despedimos, logo, a lógica pede que nos afastemos... Será que isso não passa de covardia? Será que conforme o tempo avança, a sensação muda? Acho que sim... Espero que sim... Torço pra que sim...
Devo conhecer outras pessoas, devo estar com elas. Paradoxalmente, eu as quero. Quero pra que no fim, eu fique melancólico de novo por ter que dar a elas o tchau que lhes couber.
"Te digo adeus" até parece erro de gramática.
Curioso isso de se despedir de alguém que não existe de fato, ou que não existe de carne e osso. Se bem que, de certa maneira, isso não é verdade. Todos aqueles a quem dedico o aceno de mãos, ganharam sua forma humana, tenho certeza, forma dotada de suor e inseguranças.
Comecei dizendo, ou melhor, escrevendo, que dizia adeus. Engraçado, então eu disse a Deus ou disse a você?
Tanto faz, nem sei que Deus é esse, e também não sei que você é esse. Só sei que você me faz falta, me resta descobrir se fará para sempre.
Imagino que isso tudo esteja embrulhado numa confusão total. Mas, pelo menos pra mim, está clara a objetividade.
As coisas terminam, mas não terminam como na tv, no teatro, no cinema. Na realidade, as coisas terminam aos poucos, mais ou menos como começam. Nada é de repente, só os sustos guardam pra si essa característica.
Não me é possível, assim como acredito que não seja pra ninguém, determinar o local exato onde encontra-se o ponto final de qualquer fase pela qual passamos. Obviamente, não quero faser referências à morte, até porque, não estou certo a respeito dela representar o THE END definitivo.
Ensaiei, refleti, procurei e procurei um jeito de registrar essa minha percepção. Não encontrei. Não sou poeta, nem cronista, nem dramaturgo. Escrevi um romance, mas nem de longe sou romancista, todavia, acabei descobrindo que o momento ideal é aquele que corre.
Quero pôr em texto, o quadro que vislumbro de um estado que me assola. Estou melancólico desde que entendi o que significava não ter mais a companhia de algumas pessoas surreais. Sim, são surreais porque foram sonhadas e pinçadas do seu limbo onírico, pra que dessem as caras no mundo aqui de fora, são híbridos de delírio e asfalto.
Então, me pus a digitar, isto não é uma redação de vestibular, não é matéria pra jornal, portanto, não faz sentido fazer sentido.
Durmi e acordei assombrado por eles, e agora digo adeus a eles. E o que é mais estranho, não estou à vontade quando penso em lhes revisitar. Será que alguém entende um absurdo desse? Vai ver que nem é tão absurdo assim, ora essa... Nos despedimos, logo, a lógica pede que nos afastemos... Será que isso não passa de covardia? Será que conforme o tempo avança, a sensação muda? Acho que sim... Espero que sim... Torço pra que sim...
Devo conhecer outras pessoas, devo estar com elas. Paradoxalmente, eu as quero. Quero pra que no fim, eu fique melancólico de novo por ter que dar a elas o tchau que lhes couber.
"Te digo adeus" até parece erro de gramática.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Que o ROUPA NOVA me desculpe e não me processe!
ORIGINAL – Chama – Roupa Nova
VERSÃO – Flame – Edgar Jacques
VERSE I –
Universe and rising Sun
Gave us all these bright dawns.
Why trying to block it’s glow?
But today the sky is clear,
It’s again the free way.
Come on to reach the top,
It’s fallen the lasting drop.
CHORUS –
Come,
Feel this warmth all around the Earth and more.
Tell the people that the dreams were meant to dream.
Turn the blues into a song.
Come,
Blow the ashes to out of the atmosphere.
And keep helping life rebirthing new.
Feel the flame someone called Love.
VERSE II –
We survived our darkest days,
Trying to find the archway,
Trying to find ourselves.
Now we’ve seen the shining Sun,
Now the fears are over,
Now that we’ve changed our minds,
We see a different light.
CHORUS REPRISE...
VERSÃO – Flame – Edgar Jacques
VERSE I –
Universe and rising Sun
Gave us all these bright dawns.
Why trying to block it’s glow?
But today the sky is clear,
It’s again the free way.
Come on to reach the top,
It’s fallen the lasting drop.
CHORUS –
Come,
Feel this warmth all around the Earth and more.
Tell the people that the dreams were meant to dream.
Turn the blues into a song.
Come,
Blow the ashes to out of the atmosphere.
And keep helping life rebirthing new.
Feel the flame someone called Love.
VERSE II –
We survived our darkest days,
Trying to find the archway,
Trying to find ourselves.
Now we’ve seen the shining Sun,
Now the fears are over,
Now that we’ve changed our minds,
We see a different light.
CHORUS REPRISE...
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Resolvi colocar o meu conto Vampiresco aqui outra vez, gosto dele. Foi o primeiro do gênero, e acho que será o último!
Hoje À Noite – 03/05/08
Nos últimos instantes de uma Era, urgência portanto, atrevo-me a sair das sombras, escrevo. Rabisco linhas por necessidade vil de ser lembrado, não sou literato bem como vêem, nunca o quis ser embora me tivessem sobrado horas para tanto; as horas que aterrorizam aqueles que temem a morte... Quero, com este relato, registrar o horror que me perseguiu ao longo dos meus intermináveis dias e noites do século XX, não há maiores pretensões. Quero simplesmente que saibam, ou ao menos “que saiba”, caso você, meu primeiro leitor, prefira manter-me em segredo – o mistério sempre serviu-me de capa – quero que saiba que me cansei da solidão, não agora, já há muito tempo!
Descubro, nestes meus momentos finais, enquanto a esferográfica executa a sua dança comedida, a solidariedade de uma confissão em tinta e papel, experimento a absolvição, a conspurcação, descubro um novo sabor, o sabor de ser perdoado, perdoado pelo mais importante dos magistrados, eu mesmo.
Em primeiro lugar, digo que ultrapassei os cento e trinta anos de idade. Justifico esta minha existência prolongada expondo a condição a que me submeteram contra a vontade, tornei-me um monstro, uma criatura de natureza errante, ilógica sob o ponto de vista da ciência, limítrofe, oscilante entre o bem e o mal. Eu, a exemplo de outros já extintos, caminhei num fio de navalha, e ainda agora o percebo a cada passo. Eu vagueio entre o espírito e a carne. Fui inapelavelmente condenado a testemunhar a eternidade, mas pior do que isso, fui transformado num espelho da humanidade, fui posto de fora, porém mantive uma sede semelhante àquela que a assombra, a sede pelo próximo.
Entretanto, a frialdade inerente a um peito vazio como o meu dissipou-se ao colocarem-me de pé, cara a cara com o mundo, este embrulho confuso, obviamente mais cheio de meandros do que o texto aqui a desenvolver-se.
Eu sou um vampiro... Miséria pisada... Humanidade renegada... Diabo rechaçado... Divindade escrava da beleza... Ser e Estar incisivos como a Estaca... Não sofro de Porfiria, alimento-me de sangue... Sim, hematófago como morcegos e insetos. Eu SERIA, exatamente como crêem, um parasita dos humanos. SERIA, se não me tivessem provocado um nó no estômago, se não me tivessem provocado asco crônico nas veias, doença, náuseas reincidentes.
Nasci no Velho Mundo, século XIX, não guardo recordações da vida anterior à mordida, nunca fiz questão dela. Quanto a que se seguiu, deu-se como qualquer história de Vampiros, um romântico conto gótico, regado a frivolidades, ironias e imoralidades. Contudo, a partir de certo ponto, tomei um caminho adverso, não na essência, na prática, não tornei-me um sujeito melhor, tornei-me apenas condescendente. No entanto, vim ao Brasil por vingança, os rastros de um certo alguém trouxeram-me até aqui. É sabido que este país serviu de refúgio a alguns criminosos do holocausto, vim no encalço de um deles.
Tantos Vampiros empreendem viagem pela mesma razão, porém eu, díspar dos demais, quis revanche dos Homens, não de um só, de sua raça, do conjunto. E ainda mais contraditório, quis justiça não por mim, ou por meu orgulho e virilidade feridos, e sim pelo vilipêndio cometido contra si mesmos, um caso de algoz e vítima sob única casca. Eu presenciara o mal personificado por um, descontado num outro, o mal completo.
O choque foi tamanho, que jurei desde o incidente, só voltaria a alimentar-me de sangue, caso a fonte fosse o MEU condenado, eu beberia somente o SEU flúido sujo, de nenhum outro, e em seguida, eu desistiria de mim, eu me guardaria para ele...
Como previ, convicto de minhas forças, cumpri a promessa, somente Hoje À Noite experimentei novamente o gosto forte de enxofre e ferro. Não o abracei, não fiz dele um igual, a imortalidade lhe seria útil, deixei que falecesse, o Homem... Ah, pergunte-se, quanto tempo levou minha trajetória? Se muito, não teria eu morrido de inanição? Respondo: Não, sou alma viva em matéria morta, esta energia que alguns negam afasta-me da putrefação, em suma, não bate em meu peito um coração. “Quando se está a respirar, o pior que lhe pode passar é a suspensão dos pulmões, depois disso, nos resta observar, observar e gozar.”
Em fins de 1944, durante a Segunda Grande Guerra, anunciou-se a minha desgraça maior. Na época, eu perseguia judeus, assim como perseguia alemães, americanos e japoneses, qualquer um que se aventurasse a cruzar-me o campo de visão e que por algum motivo, a beleza constantemente, me despertasse o interesse. Todos somos atraídos pela boa aparência, masculina ou feminina, independente da sexualidade, mas só os Vampiros são capazes de marcar profundamente seus antagonistas.
Naqueles tempos, eu ria do medo, aprazia-me à sedução; meus cabelos castanhos, meus olhos de prata, deleites à luz da Lua, hipnotizavam damas hipócritas que me davam a saciedade do paladar. “Ah, tanta seiva cristalina eu sorví, tanta pureza, tanto prazer! Grande privação de enlouquecer, não fosse eu um mero zumbi, por pensar no que me atrelara à moda dos idealistas, traçara para mim um horizonte fixo, um destino morno que me guiava pela mão direto ao fluido corpóreo de uma criatura cruel! “Idealismos não são características dos espécimes desta minha raça. Nunca fui o melhor dentre eles, lamento!”
Então, numa noite do passado, atrás de um gueto de prisioneiros, recém saído de uma festa à rigor, eu o avistei pela primeira vez. Usava uniforme da suástica, o rosto era duro feito um escudo, as mãos calejadas, grossas e gigantescas, verdadeiras pás aos términos dos punhos. Eu o olhava de longe, eu era ágil, não mudei sob este aspecto, ele não me perceberia, a não ser que eu me manifestasse, Vampiros têm em sua arte, o disfarce como professor. Eu não tinha sede, vinha de fartas e suculentas ceias.
O sujeito parecia esperar algo de errado, mais do que esperar, ele almejava um passo em falso. Imagino que por isso eu me tenha retido em observá-lo, vi nele, à flor da pele, o ardor, a gana, o vício.
Loucos, os prisioneiros freqüentemente buscavam a liberdade, houve muitas tentativas, a maioria frustrada. O muro erguia-se às nuvens, as chances faziam-se infimamente mais consistentes pelos buracos na superfície de noventa graus e, através de um deles, inadvertidamente aberto sob os olhos do vigia, foi que surgiu a pobre condenada.
Ela era pequena, uma mulher loura que carregava no colo seu filho prestes a completar um ano de vida. Ela caiu ao passar pela fresta. O guarda esperou, ela o viu, chocada, ficou onde estava, estática.
Os dois sequer disseram uma única palavra. Olharam-se tal qual flecha e alvo se lhes fosse permitida esta capacidade, um odiava, o outro clamava...
A moça escondeu a criança debaixo do próprio corpo, o ato mais instintivo e insuficiente que eu jamais presenciara...
O soldado grandalhão sacou o revólver, disparou cinco tiros. Cinco estalos sem susto, naquele ano as armas cantarolavam corriqueiramente...
A mulher tombou, o tronco sobre o menino. A criança engasgou, chorou...
O guarda, irascível, tomou os ganidos do filhote por insulto. Aviltou-se, agarrou a criatura pelo pescoço, ergueu-a no ar, cuspiu-lhe na cara. O homem via nas próprias mãos um objeto torpe que lhe tivesse ferido um dia, via no bebê o lixo máximo, o ponto derradeiro da vergonha, o lugar onde desfalece a dignidade.
Pensei em aproximar-me, pensei em revelar-me, contudo, a visão seguinte pregou-me nas pedras...
O homem pendeu o garoto novamente, segurou-o com um só conjunto de dedos pelos tornozelos finos, balançou-o... A parede tão perto... Um pêndulo vivo... O medo em olhos deformados... A minúscula boca escancarada... Finalmente, os ossos partiram-se... O sangue ralo escorreu pelo concreto... Os gritos perduraram por três segundos imensos... Correu, no primeiro instante do silêncio, violento cinza, restos de pensamentos infantis, sonhos coloridos, mariolas, futuro...
Paralisado, fiz minha jura, eu o apanharia, repetiria em seus ouvidos o clamor da pele delicada contra os tijolos rústicos do Inferno... Eu o condenara... Condenara a mim também... Remorsos brotaram-me, corroeram-me, cortaram-me feito vidro fino sob as unhas... Eu desperdiçara duas chances numa fração de segundos, eu teria evitado o massacre, eu o teria castigado imediatamente, mas não pude, o deixei escapar... Cheguei a cogitar a possibilidade de esquecê-lo, provei-me incompetente!
Hoje À Noite eu dou meu último suspiro, pretendo que o Sol me dissolva quando nascer, pretendo que o vento me leve, pretendo que alguém seja contaminado... Você. Mas dou-lhe uma garantia, não transmiti o MEU vírus... Há OUTROS... Outros sensivelmente piores...
Hoje À Noite vive um Vampiro, vive do modo que sabe viver, vive o remanescente de sua estirpe, o ponto derradeiro da vergonha, aquele lugar onde desfalece a dignidade... Vive Hoje, amanhã de manhã é o fim...
Metade que sou, nem de suicida posso ser acusado, metades que são vocês, que sejam frutos dos vossos ventres...
Aqui não pertenço mais... Nunca pertenci de fato... Hoje À Noite acaba uma lenda, ou ela tem início definitivamente, sem provas, um mito, a menos que acredite em mim, espero que seja capaz.
Nos últimos instantes de uma Era, urgência portanto, atrevo-me a sair das sombras, escrevo. Rabisco linhas por necessidade vil de ser lembrado, não sou literato bem como vêem, nunca o quis ser embora me tivessem sobrado horas para tanto; as horas que aterrorizam aqueles que temem a morte... Quero, com este relato, registrar o horror que me perseguiu ao longo dos meus intermináveis dias e noites do século XX, não há maiores pretensões. Quero simplesmente que saibam, ou ao menos “que saiba”, caso você, meu primeiro leitor, prefira manter-me em segredo – o mistério sempre serviu-me de capa – quero que saiba que me cansei da solidão, não agora, já há muito tempo!
Descubro, nestes meus momentos finais, enquanto a esferográfica executa a sua dança comedida, a solidariedade de uma confissão em tinta e papel, experimento a absolvição, a conspurcação, descubro um novo sabor, o sabor de ser perdoado, perdoado pelo mais importante dos magistrados, eu mesmo.
Em primeiro lugar, digo que ultrapassei os cento e trinta anos de idade. Justifico esta minha existência prolongada expondo a condição a que me submeteram contra a vontade, tornei-me um monstro, uma criatura de natureza errante, ilógica sob o ponto de vista da ciência, limítrofe, oscilante entre o bem e o mal. Eu, a exemplo de outros já extintos, caminhei num fio de navalha, e ainda agora o percebo a cada passo. Eu vagueio entre o espírito e a carne. Fui inapelavelmente condenado a testemunhar a eternidade, mas pior do que isso, fui transformado num espelho da humanidade, fui posto de fora, porém mantive uma sede semelhante àquela que a assombra, a sede pelo próximo.
Entretanto, a frialdade inerente a um peito vazio como o meu dissipou-se ao colocarem-me de pé, cara a cara com o mundo, este embrulho confuso, obviamente mais cheio de meandros do que o texto aqui a desenvolver-se.
Eu sou um vampiro... Miséria pisada... Humanidade renegada... Diabo rechaçado... Divindade escrava da beleza... Ser e Estar incisivos como a Estaca... Não sofro de Porfiria, alimento-me de sangue... Sim, hematófago como morcegos e insetos. Eu SERIA, exatamente como crêem, um parasita dos humanos. SERIA, se não me tivessem provocado um nó no estômago, se não me tivessem provocado asco crônico nas veias, doença, náuseas reincidentes.
Nasci no Velho Mundo, século XIX, não guardo recordações da vida anterior à mordida, nunca fiz questão dela. Quanto a que se seguiu, deu-se como qualquer história de Vampiros, um romântico conto gótico, regado a frivolidades, ironias e imoralidades. Contudo, a partir de certo ponto, tomei um caminho adverso, não na essência, na prática, não tornei-me um sujeito melhor, tornei-me apenas condescendente. No entanto, vim ao Brasil por vingança, os rastros de um certo alguém trouxeram-me até aqui. É sabido que este país serviu de refúgio a alguns criminosos do holocausto, vim no encalço de um deles.
Tantos Vampiros empreendem viagem pela mesma razão, porém eu, díspar dos demais, quis revanche dos Homens, não de um só, de sua raça, do conjunto. E ainda mais contraditório, quis justiça não por mim, ou por meu orgulho e virilidade feridos, e sim pelo vilipêndio cometido contra si mesmos, um caso de algoz e vítima sob única casca. Eu presenciara o mal personificado por um, descontado num outro, o mal completo.
O choque foi tamanho, que jurei desde o incidente, só voltaria a alimentar-me de sangue, caso a fonte fosse o MEU condenado, eu beberia somente o SEU flúido sujo, de nenhum outro, e em seguida, eu desistiria de mim, eu me guardaria para ele...
Como previ, convicto de minhas forças, cumpri a promessa, somente Hoje À Noite experimentei novamente o gosto forte de enxofre e ferro. Não o abracei, não fiz dele um igual, a imortalidade lhe seria útil, deixei que falecesse, o Homem... Ah, pergunte-se, quanto tempo levou minha trajetória? Se muito, não teria eu morrido de inanição? Respondo: Não, sou alma viva em matéria morta, esta energia que alguns negam afasta-me da putrefação, em suma, não bate em meu peito um coração. “Quando se está a respirar, o pior que lhe pode passar é a suspensão dos pulmões, depois disso, nos resta observar, observar e gozar.”
Em fins de 1944, durante a Segunda Grande Guerra, anunciou-se a minha desgraça maior. Na época, eu perseguia judeus, assim como perseguia alemães, americanos e japoneses, qualquer um que se aventurasse a cruzar-me o campo de visão e que por algum motivo, a beleza constantemente, me despertasse o interesse. Todos somos atraídos pela boa aparência, masculina ou feminina, independente da sexualidade, mas só os Vampiros são capazes de marcar profundamente seus antagonistas.
Naqueles tempos, eu ria do medo, aprazia-me à sedução; meus cabelos castanhos, meus olhos de prata, deleites à luz da Lua, hipnotizavam damas hipócritas que me davam a saciedade do paladar. “Ah, tanta seiva cristalina eu sorví, tanta pureza, tanto prazer! Grande privação de enlouquecer, não fosse eu um mero zumbi, por pensar no que me atrelara à moda dos idealistas, traçara para mim um horizonte fixo, um destino morno que me guiava pela mão direto ao fluido corpóreo de uma criatura cruel! “Idealismos não são características dos espécimes desta minha raça. Nunca fui o melhor dentre eles, lamento!”
Então, numa noite do passado, atrás de um gueto de prisioneiros, recém saído de uma festa à rigor, eu o avistei pela primeira vez. Usava uniforme da suástica, o rosto era duro feito um escudo, as mãos calejadas, grossas e gigantescas, verdadeiras pás aos términos dos punhos. Eu o olhava de longe, eu era ágil, não mudei sob este aspecto, ele não me perceberia, a não ser que eu me manifestasse, Vampiros têm em sua arte, o disfarce como professor. Eu não tinha sede, vinha de fartas e suculentas ceias.
O sujeito parecia esperar algo de errado, mais do que esperar, ele almejava um passo em falso. Imagino que por isso eu me tenha retido em observá-lo, vi nele, à flor da pele, o ardor, a gana, o vício.
Loucos, os prisioneiros freqüentemente buscavam a liberdade, houve muitas tentativas, a maioria frustrada. O muro erguia-se às nuvens, as chances faziam-se infimamente mais consistentes pelos buracos na superfície de noventa graus e, através de um deles, inadvertidamente aberto sob os olhos do vigia, foi que surgiu a pobre condenada.
Ela era pequena, uma mulher loura que carregava no colo seu filho prestes a completar um ano de vida. Ela caiu ao passar pela fresta. O guarda esperou, ela o viu, chocada, ficou onde estava, estática.
Os dois sequer disseram uma única palavra. Olharam-se tal qual flecha e alvo se lhes fosse permitida esta capacidade, um odiava, o outro clamava...
A moça escondeu a criança debaixo do próprio corpo, o ato mais instintivo e insuficiente que eu jamais presenciara...
O soldado grandalhão sacou o revólver, disparou cinco tiros. Cinco estalos sem susto, naquele ano as armas cantarolavam corriqueiramente...
A mulher tombou, o tronco sobre o menino. A criança engasgou, chorou...
O guarda, irascível, tomou os ganidos do filhote por insulto. Aviltou-se, agarrou a criatura pelo pescoço, ergueu-a no ar, cuspiu-lhe na cara. O homem via nas próprias mãos um objeto torpe que lhe tivesse ferido um dia, via no bebê o lixo máximo, o ponto derradeiro da vergonha, o lugar onde desfalece a dignidade.
Pensei em aproximar-me, pensei em revelar-me, contudo, a visão seguinte pregou-me nas pedras...
O homem pendeu o garoto novamente, segurou-o com um só conjunto de dedos pelos tornozelos finos, balançou-o... A parede tão perto... Um pêndulo vivo... O medo em olhos deformados... A minúscula boca escancarada... Finalmente, os ossos partiram-se... O sangue ralo escorreu pelo concreto... Os gritos perduraram por três segundos imensos... Correu, no primeiro instante do silêncio, violento cinza, restos de pensamentos infantis, sonhos coloridos, mariolas, futuro...
Paralisado, fiz minha jura, eu o apanharia, repetiria em seus ouvidos o clamor da pele delicada contra os tijolos rústicos do Inferno... Eu o condenara... Condenara a mim também... Remorsos brotaram-me, corroeram-me, cortaram-me feito vidro fino sob as unhas... Eu desperdiçara duas chances numa fração de segundos, eu teria evitado o massacre, eu o teria castigado imediatamente, mas não pude, o deixei escapar... Cheguei a cogitar a possibilidade de esquecê-lo, provei-me incompetente!
Hoje À Noite eu dou meu último suspiro, pretendo que o Sol me dissolva quando nascer, pretendo que o vento me leve, pretendo que alguém seja contaminado... Você. Mas dou-lhe uma garantia, não transmiti o MEU vírus... Há OUTROS... Outros sensivelmente piores...
Hoje À Noite vive um Vampiro, vive do modo que sabe viver, vive o remanescente de sua estirpe, o ponto derradeiro da vergonha, aquele lugar onde desfalece a dignidade... Vive Hoje, amanhã de manhã é o fim...
Metade que sou, nem de suicida posso ser acusado, metades que são vocês, que sejam frutos dos vossos ventres...
Aqui não pertenço mais... Nunca pertenci de fato... Hoje À Noite acaba uma lenda, ou ela tem início definitivamente, sem provas, um mito, a menos que acredite em mim, espero que seja capaz.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Poema
O quê há em mim, que vejo em você, e que quero ter?
O quê há em você, que quer de mim, o que obviamente já possui?
Onde quero chegar, é de fato onde já estou. Portanto, confusão.
Se me restasse opção, meu caro, não lhe pagaria o preço.
Se fosse questão de perdição, então que me satisfizesse com ela.
Se fosse questão de pedir orientação, de certo a requisitaria de quem não me desorientasse.
Diria sim à alternativa mais fácil, que valia tem a complicação, a natação contra a maré?
E lá o que quero eu com este dizer e não-dizer?
Vai ver que é só isso mesmo, enquanto não houver clareza, que hajá o benefício da sombra... Sombra, não dúvida.
O Benefício da Sombra
O quê há em você, que quer de mim, o que obviamente já possui?
Onde quero chegar, é de fato onde já estou. Portanto, confusão.
Se me restasse opção, meu caro, não lhe pagaria o preço.
Se fosse questão de perdição, então que me satisfizesse com ela.
Se fosse questão de pedir orientação, de certo a requisitaria de quem não me desorientasse.
Diria sim à alternativa mais fácil, que valia tem a complicação, a natação contra a maré?
E lá o que quero eu com este dizer e não-dizer?
Vai ver que é só isso mesmo, enquanto não houver clareza, que hajá o benefício da sombra... Sombra, não dúvida.
O Benefício da Sombra
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Now He's Back Home
Pedro Henrique nasceu normalmente, pobre mãe dele. Veio pequenininho, nem três quilos de garoto! Inventou, logo de cara, de pintar a pele de amarelo, mais tempo na maternidade.
Veio pra casa, o preguiçoso só fazia dormir. Sem energia acumulada, nos deu a todos de presente seu primeiro susto. Caminho de retorno à companhia dos médicos.
Então lá vieram as picadelas, aplicações, injeções de ânimo, quedas no padrão de docilidade, recuperação e alívio finalmente.
Hoje é dia de vir embora, já não era sem tempo. Que fique à vontade, que se demore, que tarde, pois é certo que nunca é demasiado longo, a tornar a viajar pra onde não deve.
Bem-vindo de novo
Veio pra casa, o preguiçoso só fazia dormir. Sem energia acumulada, nos deu a todos de presente seu primeiro susto. Caminho de retorno à companhia dos médicos.
Então lá vieram as picadelas, aplicações, injeções de ânimo, quedas no padrão de docilidade, recuperação e alívio finalmente.
Hoje é dia de vir embora, já não era sem tempo. Que fique à vontade, que se demore, que tarde, pois é certo que nunca é demasiado longo, a tornar a viajar pra onde não deve.
Bem-vindo de novo
segunda-feira, 31 de maio de 2010
De Volta!
Hoje é 31 de Maio, faz cinco dias que completei 26 anos de idade. Não estou lá muito satisfeito em constatar que já me encontro mais próximo dos 30 do que dos 20, contudo, afirmar categoricamente que não tenho passado bem, é mentira.
Ontem, Domingo, nasceu Pedro Henrique, meu sobrinho, primeiro sobrinho. Nunca vi criatura mais pequenina. Ao mesmo tempo, também jamais conheci gente tão especial. Ele e aqueles olhinhos cinzentos dele, espertos olhinhos cinzentos, me pareceram famintos de informação. E os pulmões, as pregas vocais e o diafragma, tudo funcionando livremente, sem vícios. Espero que, quando crescidinho, ele queira cantar, de minha parte não faltarão estímulos.
No decorrer deste longo período em que não fiz post algum no Chá de Pilha, várias coisas se sucederam. Além do PH, vieram a mim outras boas novas. Terminei de rascunhar meu romance, Raquel e eu agora estamos em processo de reavaliá-lo. Alguém pode se perguntar a respeito desta de quem acabei de falar, então, me adianto e digo que Raquel não é ninguém, ou seja, ela não existe, ou melhor, só o que sei dela, é de ouvi-la. Simplificando, ela é a voz que lê os meus textos para mim, uma máquina, um robô, um plug in do TextAloud.
Este meu projeto, o livro, chama-se "Encontramos o Gato Verde". Não sei muito o que dizer dele, na verdade, nem vale a pena. Estou num momento muito estranho com relação a ele. Antes estive assombrado por suas personagens, sua trama e seus dramas, agora me sinto vazio, esperando que o tempo não o transforme num desabafo miserável de quem se agarrava a uma tábua de salvação.
Adelaide, Tuca, Nalú e os outros ainda rodam dentro das minhas ideias, mas em lugar de me servirem de escora, sou eu quem os ampara. Posso ver todos tridimensionalmente, porém, tenho certas dúvidas se mais um, que seja, além de mim, assim os verão. Garanto que não me faria sentir confortável se, quem quer que fosse, os dispusesse nalguma roupa do ridículo, do patético. De momento, os guardo protegidos!
Mudando de assunto, em determinada ocasião, escrevi que desistira do teatro. Menti, menti feito um político brasileiro. Desde o segundo mês deste ano, faço parte de uma turma de estudos cênicos que se reune aos Sábados, na Escola Macunaima, para produzir uma peça.
Somos 22 alunos empolgados com a obra de Frank Wedeking, O DESPERTAR DA PRIMAVERA.
Particularmente, assumi a responsabilidade de cumprir com duas personas completamente diferentes. São elas, Hanschen, e a outra que não se batizou, que responde apenas por "O Homem".
Hanschen é um garoto complicado, inseguro, e que por isso banca o cínico. "O Homem", diametralmente oposto, compreende o que se passa consigo próprio, no entanto, vê-se incapacitado de libertar-se de culpas e desesperanças.
Gosto muito dos dois, aliás, gosto de todas as invenções de Wedeking: Wendla, Melchior, Moritz, Martha, Thea, Ernst... Enfim, tudo é tão intenso, tão provocador... Não me incomodaria em ser qualquer um deles nos palcos.
Estreamos nossa versão de O DESPERTAR no dia 17 do 7 de 2010. Há muito ainda em que trabalhar, graças aos céus! Não faço a mínima conjectura relativa à despedida que virá ao fim das seis sessões que apresentaremos, nem imagino como será dizer tchau a aqueles que há alguns meses me acompanham tais quais fantasminhas camaradas.
A peça, entretanto, não é a única atividade artística em curso. Em Junho, pela Escola UnderGround, farei uma performance cantando "Oh Darling" dos Beatles. A banda formada para a execução dessa música, está bastante animada, nos demos muito bem. Os ensaios correm com facilidade pelos trilhos, todos os membros, inclusive a tecladista que tem apenas nove anos, esfalfam-se com o intuito de obter o resultado mais legal possível.
Em resumo, ando bastante ocupado. Agora só me resta deixar de ser diletante.
Ontem, Domingo, nasceu Pedro Henrique, meu sobrinho, primeiro sobrinho. Nunca vi criatura mais pequenina. Ao mesmo tempo, também jamais conheci gente tão especial. Ele e aqueles olhinhos cinzentos dele, espertos olhinhos cinzentos, me pareceram famintos de informação. E os pulmões, as pregas vocais e o diafragma, tudo funcionando livremente, sem vícios. Espero que, quando crescidinho, ele queira cantar, de minha parte não faltarão estímulos.
No decorrer deste longo período em que não fiz post algum no Chá de Pilha, várias coisas se sucederam. Além do PH, vieram a mim outras boas novas. Terminei de rascunhar meu romance, Raquel e eu agora estamos em processo de reavaliá-lo. Alguém pode se perguntar a respeito desta de quem acabei de falar, então, me adianto e digo que Raquel não é ninguém, ou seja, ela não existe, ou melhor, só o que sei dela, é de ouvi-la. Simplificando, ela é a voz que lê os meus textos para mim, uma máquina, um robô, um plug in do TextAloud.
Este meu projeto, o livro, chama-se "Encontramos o Gato Verde". Não sei muito o que dizer dele, na verdade, nem vale a pena. Estou num momento muito estranho com relação a ele. Antes estive assombrado por suas personagens, sua trama e seus dramas, agora me sinto vazio, esperando que o tempo não o transforme num desabafo miserável de quem se agarrava a uma tábua de salvação.
Adelaide, Tuca, Nalú e os outros ainda rodam dentro das minhas ideias, mas em lugar de me servirem de escora, sou eu quem os ampara. Posso ver todos tridimensionalmente, porém, tenho certas dúvidas se mais um, que seja, além de mim, assim os verão. Garanto que não me faria sentir confortável se, quem quer que fosse, os dispusesse nalguma roupa do ridículo, do patético. De momento, os guardo protegidos!
Mudando de assunto, em determinada ocasião, escrevi que desistira do teatro. Menti, menti feito um político brasileiro. Desde o segundo mês deste ano, faço parte de uma turma de estudos cênicos que se reune aos Sábados, na Escola Macunaima, para produzir uma peça.
Somos 22 alunos empolgados com a obra de Frank Wedeking, O DESPERTAR DA PRIMAVERA.
Particularmente, assumi a responsabilidade de cumprir com duas personas completamente diferentes. São elas, Hanschen, e a outra que não se batizou, que responde apenas por "O Homem".
Hanschen é um garoto complicado, inseguro, e que por isso banca o cínico. "O Homem", diametralmente oposto, compreende o que se passa consigo próprio, no entanto, vê-se incapacitado de libertar-se de culpas e desesperanças.
Gosto muito dos dois, aliás, gosto de todas as invenções de Wedeking: Wendla, Melchior, Moritz, Martha, Thea, Ernst... Enfim, tudo é tão intenso, tão provocador... Não me incomodaria em ser qualquer um deles nos palcos.
Estreamos nossa versão de O DESPERTAR no dia 17 do 7 de 2010. Há muito ainda em que trabalhar, graças aos céus! Não faço a mínima conjectura relativa à despedida que virá ao fim das seis sessões que apresentaremos, nem imagino como será dizer tchau a aqueles que há alguns meses me acompanham tais quais fantasminhas camaradas.
A peça, entretanto, não é a única atividade artística em curso. Em Junho, pela Escola UnderGround, farei uma performance cantando "Oh Darling" dos Beatles. A banda formada para a execução dessa música, está bastante animada, nos demos muito bem. Os ensaios correm com facilidade pelos trilhos, todos os membros, inclusive a tecladista que tem apenas nove anos, esfalfam-se com o intuito de obter o resultado mais legal possível.
Em resumo, ando bastante ocupado. Agora só me resta deixar de ser diletante.
Assinar:
Postagens (Atom)