sexta-feira, 30 de julho de 2010

Que o ROUPA NOVA me desculpe e não me processe!

ORIGINAL – Chama – Roupa Nova
VERSÃO – Flame – Edgar Jacques

VERSE I –

Universe and rising Sun
Gave us all these bright dawns.
Why trying to block it’s glow?

But today the sky is clear,
It’s again the free way.
Come on to reach the top,
It’s fallen the lasting drop.

CHORUS –

Come,
Feel this warmth all around the Earth and more.
Tell the people that the dreams were meant to dream.
Turn the blues into a song.
Come,
Blow the ashes to out of the atmosphere.
And keep helping life rebirthing new.
Feel the flame someone called Love.

VERSE II –

We survived our darkest days,
Trying to find the archway,
Trying to find ourselves.

Now we’ve seen the shining Sun,
Now the fears are over,
Now that we’ve changed our minds,
We see a different light.

CHORUS REPRISE...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Resolvi colocar o meu conto Vampiresco aqui outra vez, gosto dele. Foi o primeiro do gênero, e acho que será o último!

Hoje À Noite – 03/05/08

Nos últimos instantes de uma Era, urgência portanto, atrevo-me a sair das sombras, escrevo. Rabisco linhas por necessidade vil de ser lembrado, não sou literato bem como vêem, nunca o quis ser embora me tivessem sobrado horas para tanto; as horas que aterrorizam aqueles que temem a morte... Quero, com este relato, registrar o horror que me perseguiu ao longo dos meus intermináveis dias e noites do século XX, não há maiores pretensões. Quero simplesmente que saibam, ou ao menos “que saiba”, caso você, meu primeiro leitor, prefira manter-me em segredo – o mistério sempre serviu-me de capa – quero que saiba que me cansei da solidão, não agora, já há muito tempo!
Descubro, nestes meus momentos finais, enquanto a esferográfica executa a sua dança comedida, a solidariedade de uma confissão em tinta e papel, experimento a absolvição, a conspurcação, descubro um novo sabor, o sabor de ser perdoado, perdoado pelo mais importante dos magistrados, eu mesmo.
Em primeiro lugar, digo que ultrapassei os cento e trinta anos de idade. Justifico esta minha existência prolongada expondo a condição a que me submeteram contra a vontade, tornei-me um monstro, uma criatura de natureza errante, ilógica sob o ponto de vista da ciência, limítrofe, oscilante entre o bem e o mal. Eu, a exemplo de outros já extintos, caminhei num fio de navalha, e ainda agora o percebo a cada passo. Eu vagueio entre o espírito e a carne. Fui inapelavelmente condenado a testemunhar a eternidade, mas pior do que isso, fui transformado num espelho da humanidade, fui posto de fora, porém mantive uma sede semelhante àquela que a assombra, a sede pelo próximo.
Entretanto, a frialdade inerente a um peito vazio como o meu dissipou-se ao colocarem-me de pé, cara a cara com o mundo, este embrulho confuso, obviamente mais cheio de meandros do que o texto aqui a desenvolver-se.
Eu sou um vampiro... Miséria pisada... Humanidade renegada... Diabo rechaçado... Divindade escrava da beleza... Ser e Estar incisivos como a Estaca... Não sofro de Porfiria, alimento-me de sangue... Sim, hematófago como morcegos e insetos. Eu SERIA, exatamente como crêem, um parasita dos humanos. SERIA, se não me tivessem provocado um nó no estômago, se não me tivessem provocado asco crônico nas veias, doença, náuseas reincidentes.
Nasci no Velho Mundo, século XIX, não guardo recordações da vida anterior à mordida, nunca fiz questão dela. Quanto a que se seguiu, deu-se como qualquer história de Vampiros, um romântico conto gótico, regado a frivolidades, ironias e imoralidades. Contudo, a partir de certo ponto, tomei um caminho adverso, não na essência, na prática, não tornei-me um sujeito melhor, tornei-me apenas condescendente. No entanto, vim ao Brasil por vingança, os rastros de um certo alguém trouxeram-me até aqui. É sabido que este país serviu de refúgio a alguns criminosos do holocausto, vim no encalço de um deles.
Tantos Vampiros empreendem viagem pela mesma razão, porém eu, díspar dos demais, quis revanche dos Homens, não de um só, de sua raça, do conjunto. E ainda mais contraditório, quis justiça não por mim, ou por meu orgulho e virilidade feridos, e sim pelo vilipêndio cometido contra si mesmos, um caso de algoz e vítima sob única casca. Eu presenciara o mal personificado por um, descontado num outro, o mal completo.
O choque foi tamanho, que jurei desde o incidente, só voltaria a alimentar-me de sangue, caso a fonte fosse o MEU condenado, eu beberia somente o SEU flúido sujo, de nenhum outro, e em seguida, eu desistiria de mim, eu me guardaria para ele...
Como previ, convicto de minhas forças, cumpri a promessa, somente Hoje À Noite experimentei novamente o gosto forte de enxofre e ferro. Não o abracei, não fiz dele um igual, a imortalidade lhe seria útil, deixei que falecesse, o Homem... Ah, pergunte-se, quanto tempo levou minha trajetória? Se muito, não teria eu morrido de inanição? Respondo: Não, sou alma viva em matéria morta, esta energia que alguns negam afasta-me da putrefação, em suma, não bate em meu peito um coração. “Quando se está a respirar, o pior que lhe pode passar é a suspensão dos pulmões, depois disso, nos resta observar, observar e gozar.”
Em fins de 1944, durante a Segunda Grande Guerra, anunciou-se a minha desgraça maior. Na época, eu perseguia judeus, assim como perseguia alemães, americanos e japoneses, qualquer um que se aventurasse a cruzar-me o campo de visão e que por algum motivo, a beleza constantemente, me despertasse o interesse. Todos somos atraídos pela boa aparência, masculina ou feminina, independente da sexualidade, mas só os Vampiros são capazes de marcar profundamente seus antagonistas.
Naqueles tempos, eu ria do medo, aprazia-me à sedução; meus cabelos castanhos, meus olhos de prata, deleites à luz da Lua, hipnotizavam damas hipócritas que me davam a saciedade do paladar. “Ah, tanta seiva cristalina eu sorví, tanta pureza, tanto prazer! Grande privação de enlouquecer, não fosse eu um mero zumbi, por pensar no que me atrelara à moda dos idealistas, traçara para mim um horizonte fixo, um destino morno que me guiava pela mão direto ao fluido corpóreo de uma criatura cruel! “Idealismos não são características dos espécimes desta minha raça. Nunca fui o melhor dentre eles, lamento!”
Então, numa noite do passado, atrás de um gueto de prisioneiros, recém saído de uma festa à rigor, eu o avistei pela primeira vez. Usava uniforme da suástica, o rosto era duro feito um escudo, as mãos calejadas, grossas e gigantescas, verdadeiras pás aos términos dos punhos. Eu o olhava de longe, eu era ágil, não mudei sob este aspecto, ele não me perceberia, a não ser que eu me manifestasse, Vampiros têm em sua arte, o disfarce como professor. Eu não tinha sede, vinha de fartas e suculentas ceias.
O sujeito parecia esperar algo de errado, mais do que esperar, ele almejava um passo em falso. Imagino que por isso eu me tenha retido em observá-lo, vi nele, à flor da pele, o ardor, a gana, o vício.
Loucos, os prisioneiros freqüentemente buscavam a liberdade, houve muitas tentativas, a maioria frustrada. O muro erguia-se às nuvens, as chances faziam-se infimamente mais consistentes pelos buracos na superfície de noventa graus e, através de um deles, inadvertidamente aberto sob os olhos do vigia, foi que surgiu a pobre condenada.
Ela era pequena, uma mulher loura que carregava no colo seu filho prestes a completar um ano de vida. Ela caiu ao passar pela fresta. O guarda esperou, ela o viu, chocada, ficou onde estava, estática.
Os dois sequer disseram uma única palavra. Olharam-se tal qual flecha e alvo se lhes fosse permitida esta capacidade, um odiava, o outro clamava...
A moça escondeu a criança debaixo do próprio corpo, o ato mais instintivo e insuficiente que eu jamais presenciara...
O soldado grandalhão sacou o revólver, disparou cinco tiros. Cinco estalos sem susto, naquele ano as armas cantarolavam corriqueiramente...
A mulher tombou, o tronco sobre o menino. A criança engasgou, chorou...
O guarda, irascível, tomou os ganidos do filhote por insulto. Aviltou-se, agarrou a criatura pelo pescoço, ergueu-a no ar, cuspiu-lhe na cara. O homem via nas próprias mãos um objeto torpe que lhe tivesse ferido um dia, via no bebê o lixo máximo, o ponto derradeiro da vergonha, o lugar onde desfalece a dignidade.
Pensei em aproximar-me, pensei em revelar-me, contudo, a visão seguinte pregou-me nas pedras...
O homem pendeu o garoto novamente, segurou-o com um só conjunto de dedos pelos tornozelos finos, balançou-o... A parede tão perto... Um pêndulo vivo... O medo em olhos deformados... A minúscula boca escancarada... Finalmente, os ossos partiram-se... O sangue ralo escorreu pelo concreto... Os gritos perduraram por três segundos imensos... Correu, no primeiro instante do silêncio, violento cinza, restos de pensamentos infantis, sonhos coloridos, mariolas, futuro...
Paralisado, fiz minha jura, eu o apanharia, repetiria em seus ouvidos o clamor da pele delicada contra os tijolos rústicos do Inferno... Eu o condenara... Condenara a mim também... Remorsos brotaram-me, corroeram-me, cortaram-me feito vidro fino sob as unhas... Eu desperdiçara duas chances numa fração de segundos, eu teria evitado o massacre, eu o teria castigado imediatamente, mas não pude, o deixei escapar... Cheguei a cogitar a possibilidade de esquecê-lo, provei-me incompetente!
Hoje À Noite eu dou meu último suspiro, pretendo que o Sol me dissolva quando nascer, pretendo que o vento me leve, pretendo que alguém seja contaminado... Você. Mas dou-lhe uma garantia, não transmiti o MEU vírus... Há OUTROS... Outros sensivelmente piores...
Hoje À Noite vive um Vampiro, vive do modo que sabe viver, vive o remanescente de sua estirpe, o ponto derradeiro da vergonha, aquele lugar onde desfalece a dignidade... Vive Hoje, amanhã de manhã é o fim...
Metade que sou, nem de suicida posso ser acusado, metades que são vocês, que sejam frutos dos vossos ventres...
Aqui não pertenço mais... Nunca pertenci de fato... Hoje À Noite acaba uma lenda, ou ela tem início definitivamente, sem provas, um mito, a menos que acredite em mim, espero que seja capaz.